
O impacto do sono (ou da falta dele) no processo de aprendizagem.
A onipresença de luzes, televisores e celulares, bem como a velocidade frenética com que a sociedade se movimenta, transformou o sono em adversário. No afã de aumentar a produtividade diária, seja trabalhando ou estudando, um crescente número de pessoas tem escolhido ficar mais e mais tempo acordado. Mas os cientistas alertam: a maior experiência de produtividade do corpo humano ocorre quando estamos… dormindo. E isso inclui, claro, o processo de aprendizado: a quantidade de horas dormidas está diretamente ligada à capacidade de reter conteúdo.
Para entender a relação entre sono e aprendizado, conversamos com Magda Lahorgue Nunes. Ela é neuropediatra especialista em Neurofisiologia Clínica-Medicina do Sono e vice-diretora do Instituto do Cérebro (InsCer) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
A seguir, leia os principais trechos da entrevista.
Qual a importância do sono para o aprendizado?
O ideal é a fazer essa pergunta de outra forma: quais as consequências de uma
noite mal dormida para o aprendizado? Já se sabe que a má noite de sono, ou o
sono com baixa eficiência, desequilibra a concentração, a capacidade de memória
e o comportamento. São fatores impactados negativamente. O sono é um processo
ativo, onde ocorre restauração das atividades cerebrais, como reparação dos
tecidos, metabolismo de radicais livre e edição das memórias. Se a privação de
sono desregula todo esse sistema, consequentemente vai prejudicar a capacidade
de tomar decisões, de resolver problemas e de estudar.
Qual é a quantidade ideal de horas dormidas para
que a capacidade de reter conteúdo não seja influenciada negativamente?
O tempo ideal de sono (para armazenar conteúdo ou qualquer outra atividade)
varia de acordo com a idade. A melhor dica é seguir as recomendações publicadas
em 2014 pela National Sleep Foundation:
- Recém-nascidos: 14 a 17 horas por dia de sono;
- Quatro a 11 meses de idade: 12 a 15 horas;
- Um a 5 anos: 10 a 14 horas;
- Seis a 13 anos: 9 a 11 horas;
- Catorze a 17 anos: 8 a 9 horas;
- Dezoito a 64 anos: 7 a 9 horas;
- Acima de 64 anos: 7 a 8 horas.
E quando as pessoas sentem sono ao estudar?
Teoricamente, uma noite bem dormida produz energia suficiente para manter-se
acordado ao longo do dia. Se existe uma sonolência excessiva na hora de
estudar, provavelmente há algo errado no sono noturno, o que pode ser produzido
a partir de um distúrbio crônico ou de maus hábitos, mesmo.
Muitas universidades oferecem espaços com redes e
pufes para leituras, mas também para um cochilo ao longo do dia.
A sesta vespertina é algo que tem sido revisitado pelas instituições
brasileiras. E isso é bom porque aquele hábito cultural muito forte nos países
latinos se perdeu com a influência americana. O cochilo curto de 30 minutos
pode, sim, melhorar a produtividade e ajudar a recuperar um pouco do sono
privado à noite – sobretudo aos adolescentes.
Como proporcionar uma noite de sono produtiva?
A higiene do sono é constituída por bons hábitos. Isso inclui reduzir os
estímulos luminosos, evitar comidas pesadas ou bebidas com alto teor de cafeína
à noite, ir para cama relaxado, estar em um local arejado e evitar barulhos.
Os estímulos luminosos que a sra. se refere
são as telas eletrônicas? Porque muitos cientistas dizem que elas
são as principais vilãs do sono.
De fato. Nosso organismo é sensível à luz azulada, a mesma do sol do meio dia e
dos computadores, televisores e smartphones. A exposição a ela, quando próximos
de dormir, desajusta nosso relógio biológico e pode perturbar o sono. O ideal é
que as crianças desliguem as telas pelo menos uma hora antes de dormir;
adultos, 30 minutos antes.
A senhora dorme bem?
Eu durmo muito bem (risos). E acho que é por isso que estudo o sono. Quero ajudar os outros a dormirem melhor.
Por Leonardo Pujol – grupoa.com.br
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