
Você não precisa produzir o tempo todo. A boa produtividade pressupõe descanso.
A ordem é produzir, de manhã, tarde ou noite, não pode parar. Chamada de mito da produtividade, essa ideia associa o nosso valor exclusivamente àquilo que entregamos, seja no trabalho, em casa ou na faculdade —o tempo não pode ser desperdiçado. Apesar de ser comum, especialistas dizem que esse raciocínio não é nada saudável, e afirmam a importância do descanso mental, de ter um momento sem fazer nada, apenas deixando os pensamentos passarem.
A pessoa acha que quanto mais ela produzir, mais reconhecida será, que vai conseguir conquistar mais coisas. Ela sente que precisa fazer alguma coisa o tempo todo; quanto menos folga tiver no dia, melhor o desempenho; quanto mais tarefas concluir o dia inteiro, melhor. Esses são algumas coisas que compõem esse mito.
No entanto, muitas vezes, o “não fazer nada” é fazer alguma coisa. Relaxar faz bem para o corpo e para a mente. O problema é que, por mais que isso pareça algo simples, é difícil de ser aplicado. Quando estamos em casa, de folga, por exemplo, queremos nos entreter, assistir a uma série, ler um livro, fazer uma caminhada, ou seja, devemos sempre estar fazendo alguma coisa e, quando isso não acontece, temos a impressão de que desperdiçamos o tempo.
Na verdade, a mente e o corpo agradecem quando você relaxa.
Esse comportamento é tipicamente das mulheres, já que elas têm mais dificuldade de ficar sem fazer nada por muito tempo. Mas é importante ter um período sem tarefa alguma. Ficar o tempo todo ocupado não faz bem para a saúde física nem mental. É importante organizar a rotina por prioridades, delegar funções, compartilhar, dividir as tarefas, saber dizer não, reconhecer e respeitar os próprios limites, os pontos fracos, pedir ajuda, se necessário. Porque quanto mais organizada a rotina, menos estressante e mais produtiva ela vai ser.
Fazer várias coisas o tempo todo não significa que a pessoa está sendo produtiva. Ser produtiva é fazer as tarefas que precisam ser realizadas, e o que não der para ser feito hoje, fica para amanhã. E muitas pessoas não conseguem fazer isso, aí passa a ser uma produtividade tóxica, porque faz mal, para haver uma produtividade saudável é preciso estar descansado.
Não há problema algum em querer aproveitar bem o tempo, quando possível, assim como não há problema em querer simplesmente relaxar e não fazer nada. Vale dizer que mesmo na hora do descanso, os pensamentos produtivos vêm, mas depende de cada um para que eles sejam desviados e o foco volte a ser o relaxamento.
É preciso ter tempo para trabalhar, para descansar e para ter lazer. Quando você não divide seu tempo assim, você pode chegar no esgotamento emocional, na fadiga. Você pode começar a desenvolver transtornos mentais e doenças físicas.
Cérebro precisa descansar
Júlio Pereira, médico neurologista da BP (A Beneficência Portuguesa de São Paulo), explica que durante o dia o ideal não é que as pessoas fiquem o tempo todo fazendo alguma atividade. “Se a gente fizer um estímulo constante do cérebro pode ocasionar um burnout no sistema nervoso central e até depressão. Então, o ideal é que nós tenhamos períodos de foco e períodos de total descanso.
Já em questões hormonais, segundo o neurologista, o cortisol (hormônio do estresse) é necessário no dia a dia, pois ajuda na concentração, no foco e na frequência cardíaca. “Quando você está produzindo, trabalhando, ele está sempre em alta”, diz.
Por outro lado, num período de descanso e relaxamento, esse hormônio, além de outros semelhantes, é reduzido. O grande problema é que quando ficamos muito tempo sem ter nenhum descanso, há consequências. “O cortisol é bom, mas elevado de forma crônica pode prejudicar uma série de coisas, e um dos efeitos mais comuns é a piora da memória”, destaca Pereira.
O especialista explica que quando estamos trabalhando, estudando, ou fazendo qualquer outra atividade, o cérebro está exercendo sua neuroplasticidade, que é como se novas conexões cerebrais fossem se formando. Mas essas conexões também precisam de um tempo para se consolidar. Para exemplificar, imagine uma atividade física: o treino serve para ganhar força, músculos, resistência, melhorar a saúde, entre outras coisas. Mas quando passamos do limite, ao invés de fazer bem, passa a fazer mal. Da mesma forma é o cérebro.
Um momento relaxando, sem fazer nada, faz muito bem à saúde.
O corpo também precisa relaxar
Quando estamos ligados no 220 o tempo todo, uma das consequências é a redução da produção de serotonina, o hormônio do bem-estar. Isso resulta numa perda de prazer, de se sentir bem. “A gente sabe que o estresse crônico está relacionado a problemas cardíacos e uma série de doenças que podem ter consequências nesse mito da produtividade”, diz o neurologista.
Da mesma forma que há um consenso entre a comunidade médica sobre as oito horas de sono por noite, o ideal é passar pelo ciclo do dia de forma organizada: trabalhar, comer, relaxar, descansar a mente, ter lazer ou fazer alguma atividade física. “A gente precisa tirar de lição que produzir significa aprender a usar e a desfrutar do seu tempo, e não só viver em função de cumprir com tarefas”, diz Aline Sabino, psiquiatra da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.
Texto adaptado de Bruna Alves.
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