
Você gosta da sua profissão, mas ganha mal? Veja possíveis soluções.
Amar o trabalho é o mantra do século 21. Não param de circular diariamente frases e vídeos no Facebook exaltando a importância de gostar do que se faz. Porém, às vezes sobra amor, mas falta dinheiro. O que fazer quando a profissão dos sonhos não paga as contas?
Para Maria Candida Baumer de Azevedo, sócia de uma consultoria especializada em carreira e professora da Fundação Dom Cabral, o primeiro passo é reconhecer suas habilidades e identificar onde elas serão mais valorizadas. “É importante a pessoa pensar no que gosta, tem prazer, faz bem e onde aquilo é mais necessário”.
A consultora dá o exemplo de um jardineiro. Muita gente pode pensar que não há como crescer nessa profissão. “Não existe jardineiro-chefe, sênior e pleno. Mas, se você gosta de ser jardineiro e quer mais, se for trabalhar em uma empresa de paisagismo, por exemplo, tem um universo de possibilidades muito maior do que se ficar executando esse trabalho em uma casa ou em um prédio, onde o negócio principal não é a jardinagem”, explica.
Para quem está satisfeito com o emprego, porém reclama da remuneração, é preciso se mexer. “Apresentar um projeto, uma ideia ou criar algo diferente podem ser caminhos para uma promoção ou aumento de salário”.
Você não precisa largar sua carreira para ganhar mais. Ver outras áreas de atuação, dentro do que você gosta, pode ser uma maneira de melhorar sua remuneração sem ter de abrir mão da atividade que te faz feliz
Mas é importante refletir sobre a própria carreira, principalmente se depois de anos de experiência não houve evolução. “Pode ser que a empresa seja engessada, mas pode ser que o profissional não tenha tomado atitudes que levassem a uma melhoria. É incrível, mas há pessoas que ficam esperando um reconhecimento natural da empresa e nunca manifestam seu desejo de ganhar mais, ter novos desafios ou atuar em novas áreas”.
Resultados e mudança de carreira
O mundo do trabalho funciona à base de troca. Se o que você tem a oferecer gera poucos resultados, será difícil ganhar mais. Parece óbvio, mas nem todos enxergam. “As empresas remuneram por resultados e as pessoas querem ser reconhecidas. Mas o reconhecimento só acontece quando há resultados”, diz o especialista em gestão de pessoas Cesar Romão.
Além disso, tempo de empresa ou de profissão não é igualmente proporcional ao salário. Maria Candida diz que, antes de contar os anos de casa/profissão para exigir uma remuneração mais alta, é preciso responder a pergunta: você é fenomenal no que faz? “As pessoas acham que têm de ser reconhecidas pela lealdade à empresa ou ao que fazem e isso é coisa do passado”, afirma.
Em alguns casos, os resultados não vêm porque o profissional escolheu a carreira errada, não é tão bom no que faz quanto deveria. Entretanto, também existem excelentes profissionais que ainda não descobriram o seu lugar. “A pessoa é muita boa naquilo que faz, mas ainda não encontrou onde aquilo em que se destaca dá dinheiro”, diz a professora da Fundação Dom Cabral.
Achar o mapa da mina nem sempre é fácil. Além de serviços especializados em orientação de carreira, muita leitura e novos relacionamentos na área em que se deseja atuar auxiliam na definição de um nicho de mercado. “Essa rede de relacionamentos vai colocando-o em uma vitrine cada vez maior, assim, mais gente o vê e mais gente lembrará de você na hora que aparecer uma posição que se encaixa com seu perfil”, compara Maria Candida.
Quando a recompensa almejada não aparece, mesmo estando no lugar certo, muitos pensam logo em abandonar o emprego ou a carreira. Esse pode não ser o caminho ideal. “As pessoas estão mudando demais de carreira e empregos. Jovens com 30 anos, em média, já tiveram 12 empregos e foram medianos em todos. Ganhar melhor requer desenvolvimento de competências diariamente”.
Renda complementar
Um caminho para aumentar o caixa é fazer trabalhos paralelos, ligados à profissão, e não depender somente do contracheque. As vantagens de ter outras fontes de renda vão além do dinheiro extra. “Há casos em que o profissional percebe maneiras de se reinventar e partir para um negócio próprio”.
Foi assim que o publicitário Michel Luz, 23 anos, de São Caetano do Sul (SP), redirecionou sua carreira. “Quando tinha remuneração fixa, buscava trabalhos para complementar a renda”, conta Michel, sobre a época em que trabalhava em agência e criou seu blog, há quatro anos. O que era apenas um extra tornou-se sua principal ocupação, que atualmente vive como freelancer, produzindo textos e gerenciando canais de mídias sociais.
Michel não se arrepende de ter trocado uma renda fixa por outra variável. “Hoje, posso dizer que sou bem remunerado para o que faço”, diz o publicitário, satisfeito com os rumos que deu à própria carreira.
O profissionais não precisam pensar que estão condenados aos seus pisos salariais. Toda profissão pode ser fonte de múltiplos ganhos. “Um chef de cozinha de um grande restaurante, desanimado com o salário, pode abrir uma fábrica de salgados gourmet, por exemplo. Assim, ele não abandona completamente a culinária e parte para algo que o mercado pede no momento, que lhe proporciona mais dinheiro”.
Realização x dinheiro
O que vale mais: realização ou dinheiro no bolso? Para o professor universitário Fabio Venturini, 37 anos, de São Paulo (SP), que tenta equilibrar essa equação, sem precisar abrir mão de nenhum dos dois, só dinheiro não basta.
“Sou capaz de fazer algo só pelo dinheiro, já fiz, mas não quero. A vida é curta demais para a gente ficar se frustrando oito horas por dia, 40 horas por semana, 160 horas por mês. Não quero viver um martírio de segunda a sexta e ser feliz no fim de semana. Quero me realizar no meu trabalho”, diz, com a rapidez de quem já fez esses cálculos antes.
A pesquisa é o que mais estimula Venturini no trabalho como professor. No momento, entretanto, a profissão não banca todos os seus custos. Ele complementa a renda com serviços que presta na área de comunicação, sua primeira formação. “Tenho constantemente essa dúvida: será que estou fazendo certo? Estou com filho novo e vou ficar insistindo em uma carreira para ganhar pouco?”. Porém, logo conclui que não conseguiria agir diferentemente. “Eu gosto de dar aulas. Não adianta me dedicar a alguma coisa que eu ganhe dinheiro e depois ter de jogá-lo na farmácia, no plano de saúde”.
No seu dia a dia como consultora de carreira, Maria Candida lida com frequência com pessoas que estão doentes por causa da frustração. “É impressionante e assustadora a quantidade de gente com depressão que tenho que encaminhar para a terapia. São pessoas que fazem escolhas de carreira que são bonitas para os outros, que atendem às expectativas sociais, mas estão frustradas porque aquilo não têm nada a ver com elas”. A consultora não minimiza a importância do dinheiro, porém considera fundamental que o caminho também seja prazeroso.
Cesar
Romão inverte essa lógica e afirma que é possível aprender a gostar de um
trabalho pela recompensa financeira. “Tenho recomendado às pessoas que
procurem gostar daquilo que podem fazer para honrarem suas necessidades. Não é
difícil, o problema é que tem muita poesia nesta história de fazer o que se
gosta e ganhar dinheiro com isso”.
O especialista em gestão diz que quando as pessoas conseguem transformar
esforço em resultado sentem satisfação e passam a apreciar mais o que fazem.
“É como alguém que nunca jogou golfe, nunca gostou, mas o dia que dá uma
tacada de 150 jardas diz: opa, tenho algum potencial aqui”, relaciona
Romão.
Para
ver o saldo no banco aumentar, ganhar mais não costuma ser o bastante. Na
maioria das vezes, os gastos crescem na mesma proporção que a renda, o que faz
com que o profissional nem sinta o impacto de uma elevação na remuneração.
“É importante lembrar que pela falta de educação financeira tendemos
muitas vezes a achar que ganhamos pouco. Claro que quanto mais recursos
financeiros, melhor. Mas muitos profissionais insatisfeitos não sabem usar
corretamente o que ganham, se afundam em dívidas e, depois, reclamam do
salário, da profissão e da empresa”, afirma Fabiano Ferreira. “A
consciência financeira é mais importante do que ganhar aumento”, concorda
Maria Candida.
E você?
O que agrega mais valor, dinheiro ou gostar do que faz?
É possível gostar de fazer algo que não dá retorno financeiro?
É possível ganhar dinheiro e não gostar do que faz?
Evidentemente que não há uma resposta certa ou errada. Há a sua resposta.
BASEADO NO TEXTO DE Yannik D’Elboux
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