
Como reconhecer relacionamentos tóxicos entre mães e filhas?
Mães narcisistas perversas são tóxicas na medida em que modulam suas supostas falas de bem querer e atitudes técnicas de cuidadoras, com situações reversas a tudo o que pode representar amor e cuidados reais. Como sequencialmente agem dentro desse padrão, fica dificultada a percepção das filhas sobre a clareza da trama na qual estão envolvidas desde o princípio de suas vidas.
Histórias de violência emocional dessa ordem são bastante complexas e de acesso tortuoso enquanto não se conhece profundamente os mecanismos da ação perversa. As relações passam por jogos de manipulação, onde ora se bate, ora se alisa, fazendo com que as filhas, vítimas dessa trama abusiva, desacreditem em qualquer tipo de percepção concreta que possam vir a ter acerca da realidade. Nos breves momentos em que passam por rompantes de lucidez sobre as incoerências afetivas e as questionam, são severamente atacadas por essas mães abusivas, que se mostram enfurecidas ao serem confrontadas. Como consequência, fazem uso de manobras coercitivas para que suas filhas permaneçam submissas aos seus mandatos, fazendo uso de todo poder de autoridade materna que possuem, mostrando-se magoadas, desqualificando-as, inserindo culpas e acusando-as de não serem boas filhas.
Como no conto de “fadas”, imaginariamente, essas mães se olham no espelho, não admitindo em hipótese alguma ter alguém por perto que possa servir de ameaça na expressão de seus brilhos e beleza. Têm enorme dificuldade em aceitar que o tempo passa e que se envelhece e por mais inacreditável que possa parecer, ver a juventude em suas filhas, é o pior dos mundos. Existe uma competição velada, uma recusa em se passar o bastão do feminino para as mulheres da família que vem depois delas. Possuem vaidades acima da média reveladas pelo enaltecimento excessivo que têm de si mesmas, sendo que nunca perdem a oportunidade de contar a todos como são pessoas legais, queridas e como todos as amam.
Por outro lado, filhas criadas neste tipo de ambiente, desoladas e inseguras, não sabem o que fazer para que possam obter um olhar de acolhimento e de amor dessas limitadas mães. Literalmente pisam em ovos para não se sentirem criticadas, para que elas não fiquem ressentidas com algo que supostamente fizeram, para não sofrerem mais ainda com as atitudes de isolamento e abandono afetivo existentes. Como as mães ficam em alerta monitorando-as, no objetivo de apagar qualquer tipo de manifestação que supostamente possa vir a ofuscá-las, os golpes inferidos visam quebrar qualquer tipo de força emocional e identidade que as filhas possam vir a ter. As manipulações para que estes intentos aconteçam, passam por coerções veladas desautorizando-as na confiança de suas percepções e, por consequência, na construção de uma autoestimaa saudável.
Por estarem a serviço de si mesmas, essas mães apenas conseguem olhar para quem estiver em sua volta, como meros objetos manipuláveis que estão ali apenas para servi-las em suas infinitas demandas.
Como fazem de tudo para invalidar qualquer movimento que minimamente possa fazer com que as filhas apareçam, desde muito cedo são “adestradas” a se envergonharem se acaso aparecerem mais do que as suas genitoras. Em um pacto silencioso de lealdade familiar para com essas mães, muitas dessas filhas tornam-se reféns passivas, submissas e eternas dependentes emocionais, buscando a todo custo aprovação sobre as suas atitudes, tentando agradar em primeiro a mãee e ao longo da vida ampliando esse padrão de comportamento para todos os outros que encontrarem pelo caminho.
Como característica comum, todas têm energia em abundância e desde cedo aprendem que para sobreviverem devem passar por cima de si mesmas, negando suas dores, olhando apenas para os desejos dos outros buscando satisfazê-los na tentativa de receber um mínimo olhar de aprovação, reconhecimento e amor. Com o tempo, se esquecem de que ter desejos próprios também é um direito.
Como trauma de uma vida, vivem reféns do pavor da rejeição, do sentimento de vazio e de isolamento tão conhecido, portanto, sem saber e com pouco discernimento para entender o que está acontecendo com elas mesmas e o que as movem, enquanto não despertarem poderão passar pelos mais diversos tipos de violência emocional. Necessitam aprender a diferença que existe entre abuso e resiliência. A angústia da falta de um vínculo real e a promessa de que ele poderá acontecer, mas que jamais acontece no relacionamento com essas mães, faz parte dos resultados dos abusos sofridos que as deixam como reféns vida afora repetindo esses cenários emocionais enquanto não fizerem o lutoo dessas mães afetivamente impossíveis.
Em algum momento, quando despertam da trama de abuso emocional em que estão envolvidas, pode ser que necessitem de bastante auxílio terapêutico para que o resgate de suas identidades possa acontecer. Dependendo da amplitude do mal causado e da possibilidade de recontaminação emocional tóxica, o distanciamento é uma das escolhas que costumam ajudar no fortalecimento da personalidade das vítimas, que estarão distantes dos ataques diários. Portanto, três tipos de atitudes de sobrevivência podem ser deliberadamente acionadas:
1 – Afastamento físico por algum tempo no intuito de reorganizar a identidade longe dos massivos ataques depreciativos e uma volta ao convívio quando se estiver mais fortalecida e emocionalmente blindada.
2- Afastamento físico intermitente por conta de questões de práticas familiares e por entender a mãe como um ser psiquicamente adoecido, atitude que em um primeiro momento ainda não é garantia de segurança total da preservação emocional da vítima.
3 – O não contato. Em situações mais graves, onde os abusos são insuportáveis para a sobrevivência, quando a vítima corre risco de perder a sanidade e a saúde, o afastamento total é a única saída possível.
É importante saber que se o caso caminhar para atitudes de afastamento, que a vítima após reprocessar seus conteúdos emocionais e ainda com bastante informação sobre o que está ocorrendo em sua vida, articule sábias estratégias para não sair dessa situação mais ferida ainda e que não faça nada antes de alcançar total clareza sobre a trama na qual está envolvida.
Nas situações onde não há solução possível de mudança de comportamento das mães, de algum modo, quer seja fisicamente, quer seja emocionalmente ou em ambos os casos, é inexorável acontecer um afastamento gradativo e silencioso como mecanismo de sobrevivência das vítimas, sendo que isso pode ocorrer mesmo que haja um olhar humanitário de entendimento sobre todo o drama e mesmo quando o relacionamento no dia a dia continua.
Lembrando que uma vez que alma se conquista em lucidez, ela se torna incorruptível e com toda certeza saberá reconhecer qual a melhor atitude a ser tomada.
Quanto mais despertos, melhor!
Como fazer o luto da mãe narcisista
O luto faz parte da sua cura emocional
Você descobriu que a sua mãe é narcisista por meio de pesquisas na internet, já leu coisas a respeito, mas ainda se sente desolada em sua dor e em sua culpa. Embora o seu intelecto compreenda perfeitamente que a sua mãe não é e nunca foi uma mãe de verdade, emocionalmente está sendo difícil lidar com esta perda. Como entender, tanto intelectual como emocionalmente, que a conexão biológica que você possui com a mulher que lhe deu à luz nunca se tornará afetiva e harmoniosa de fato? De que forma você poderá ajudar-se a aceitar esta verdade para que consiga viver uma vida de realizações e, principalmente, sem culpa?
Descobrir que a mãe é narcisista, ou seja, que você nunca será capaz de ser amada e respeitada pela própria mãe, equivale a uma imensa perda. Ter de se desfazer da fantasia do relacionamento afetivo com “a mãe bondosa e amorosa que ama os filhos igual e incondicionalmente” é doloroso. A filha de mãe narcisista que tem a coragem de enfrentar o que me refiro como “a verdade narcisista” sofre muito. Finalmente aceitar que o relacionamento com a própria mãe é uma farsa e que foi mantida estes anos todos não pelo amor e carinho associados com os relacionamentos normais entre mães e filhas, mas por intermédio de abuso, atitudes intolerantes e chantagem emocional requer esforço. Devido à relevância deste evento, torna-se vital para a filha de mãe narcisista dedicar a mesma atenção ao luto da perda da mãe que nunca foi como se estivesse perdendo uma mãe de verdade. Para ajudá-la a lidar com este momento tão delicado e especial em sua vida, seguem seis dicas de como fazer o luto da mãe narcisista:
Processe a perda da mãe narcisista por completo
Vivenciar o luto da mãe narcisista não ocorre da noite para o dia, por isso, dê um tempo a si mesma para processar esta perda por completo. Segundo Elisabeth Kübler-Ross (1998), psiquiatra norte-americana e criadora do modelo dos cinco estágios do luto (negação e isolamento, raiva, negociação, depressão e aceitação), só conseguimos superar a dor de uma perda quando aprendemos a lidar com os sentimentos provocados por ela. Reprimir a sua angústia como se não tivesse propósito não fará com que ela simplesmente desapareça. O luto faz parte da sua cura emocional, portanto, sem luto não haverá bem-estar emocional. Você pode até adiar o momento de processar esta perda, mas nunca será capaz de evitar o processo por inteiro. No dia em que você menos esperar, aqueles sentimentos antagônicos que você se esforçou tanto em reprimir tomarão conta de você, desestabilizando-a por completo independentemente de onde e com quem você esteja. Abra o seu coração para a sua dor e lhe dê voz, seja conversando com uma amiga ou terapeuta empática, paciente e compreensiva; ou através da escrita, registrando o que você vê, pensa e sente. O luto tende a ser considerado normal na comunidade terapêutica quando não excede o período de um ano.
Permita-se sentir tristeza e raiva
Todas as nossas emoções têm seus papéis e implicações. A tristeza e a raiva são tão importantes para o nosso equilíbrio emocional quando a alegria e a felicidade. Eu não posso corrigir algo se não sou capaz de detectar o erro. No processo do luto, a tristeza e a raiva são emoções valiosas que a ajudam a processar a sua perda não somente no nível emocional, como também nos níveis psicológico e espiritual. Filhas de mãe narcisistas que não se permitem chorar e ficarem brabas quando fazem o luto da mãe narcisista tem mais dificuldades de se livrarem da culpa. Eu sei que uma cliente ainda não fez por completo o luto da mãe narcisista quando ainda se sente culpada por tudo de errado que acontece no seu relacionamento com a mãe. Se você não se dá tempo suficiente nem se permite realmente entender através do seu sofrimento que a sua mãe nunca teve nem terá uma conexão afetiva genuína com você, você se sentirá eternamente culpada toda a vez que o amor dela não se materializar. Ou você aceita que a sua mãe é narcisista e, portanto, é incapaz de amá-la, ou passará o resto da sua vida se martirizando por uma deficiência que não é sua.
Reveja crenças absolutas
Se você ainda acredita nas regras “Família é tudo” e “Toda mãe ama seus filhos”, o seu luto nunca será completo. Crenças inflexíveis e irrealistas deste tipo a mantêm presa à fantasia de que a sua mãe narcisista é uma mãe de verdade, que algum dia o seu relacionamento com ela melhorará e que você é incapaz de ser feliz sem a influência de uma mãe abusiva e família disfuncional. Tais ideias simplistas somente favorecem a culpa que você carrega. Família não é tudo, pois o amor independe de laço sanguíneo. Sobretudo, uma mãe narcisista e abusiva incapaz de amar, inclusive a si mesma. Se você está cansada de viver uma ilusão e deseja de fato fazer o luto da mãe narcisista por completo está na hora de reestruturar as suas crenças. Seja honesta consigo mesma, reconheça a complexidade da sua situação e abra o seu coração para a verdade narcisista.
Valorize os relacionamentos fora do ambiente familiar
Sentir-se confortável em expressar a sua tristeza e descontentamento com os membros de uma família disfuncional ou esperar que entendam o seu sofrimento tende a revelar-se como uma grande perda de tempo. Se a sua mãe é narcisista a sua família é disfuncional, ou seja, não funciona de maneira a contribuir com o seu crescimento e desenvolvimento pessoal. Qualquer tentativa sua de curar as suas feridas e evoluir emocionalmente provavelmente será rejeitada por eles, pois tendem a ser tão imaturos emocionalmente quanto a mãe ou a esposa/ex-mulher. Para que não se sinta envergonhada e ainda mais culpada por estar tentando processar esta perda de forma honesta e aberta, quando necessitar de companhia para compartilhar a sua dor recorra a amigos compreensivos e empáticos que aceitam a sua situação sem tentar “resolvê-la”, mas que toleram e respeitam o seu desconforto emocional sem insistir em diminui-lo a todos os custos.
Faça terapia
Fazer o luto da mãe narcisista é uma tarefa difícil. Filhas de mães narcisista costumam sentir-se imensamente solitárias e perdidas em sua dor, a ponto de acreditarem que não têm a quem recorrer para lidar com o próprio sofrimento de forma produtiva. Ninguém nos prepara para o luto ou para reconhecer a irracionalidade dos próprios pais. “Falar mal da mãe”, conversar a respeito de eventos traumáticos ou perdas emocionais ocorridas no ambiente familiar ainda é um assunto tabu. A tendência generalizada é evitar o tema, reagir de forma estoica e normalizar o sofrimento do outro com chavões do senso comum, atitudes e mensagens positivas demasiado rígidas que só tendem a invalidar a importância do luto e os sentimentos antagônicos que os acompanha. Eu recomendo muitíssimo a terapia para filhas de mãe narcisistas que precisam de apoio emocional para enfrentar os desafios desta etapa em suas jornadas. Uma terapeuta com experiência no tratamento do trauma, mães tóxicas e/ou relacionamentos disfuncionais pode auxiliá-la neste momento tão especial, fazendo com que se sinta aceita e em paz consigo mesma.
Aprenda a viver com a perda
Ninguém vem ao mundo como filha de mãe narcisista por opção, com certeza não foi uma escolha sua. Embora não seja capaz de apontar a mãe ideal, tenta lidar com a destruição do que para você sempre foi um grande sonho. Quando, enfim, você conseguir aceitar esta perda, encontre um lugar em seu coração para este vazio. Nas situações em que se sentir um pouquinho triste ou inadequada por não ter uma mãe verdadeira, permita-se acessá-lo, já que este buraquinho também faz parte de você. Conforte-se por ter tido a coragem de viver uma vida autêntica e celebre a pessoa que você é, inteira, afinal todos somos imperfeitos e vulneráveis.
FONTE: filhasdemaesnarcisistas
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